Popularmente, sempre que se refere aos profissionais da saúde vem à mente o médico e o enfermeiro. Tal cultura é de fato meritória, por se tratar de profissões centenárias, no mundo e no Brasil. Neste, as primeiras faculdades originaram no século XIX, em 1808 de medicina, na Bahia, e em 1890 de enfermagem, no Rio de Janeiro. Além disso, nesses dois séculos em nosso país, evoluíram muito em suas relevâncias científicas e sociais.
Uma das maiores vertentes da ciência na atualidade é o status epidemiológico da saúde no modelo biopsicossocial, pela insuficiência epidemiológica tradicional do modelo biomédico que aborda a saúde como um fenômeno ligado unicamente a doença. O psiquiatra George L. Engel foi o primeiro a chamar a atenção para “a necessidade de um novo modelo médico”, em seu artigo da revista científica Science, em 1977, demonstrando a relação de diversos fatores que podem influenciar na doença de um paciente. Assim, o exemplo de Engel oferece um ponto de partida para uma compreensão mais ampla da atenção à saúde, fomentando o surgimento de outras profissões de saúde. Hoje o modelo biopsicossocial é preconizado no mundo pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e no Brasil pelo Ministério da Saúde.
A evolução do modelo biopsicossocial tem sido progressiva no passar dessas quatro décadas, demonstrada nas evidências científicas praticadas por outros profissionais de saúde, que veem aparecendo com glamour na imagem social. Já o arcaico modelo biomédico, apesar de ainda prevalente em grande parte do mundo e no Brasil – expressado também no linguajar popular vicioso do modelo centrado no médico e no enfermeiro, vem sendo gradativamente desenraizado da cultura popular.
Daí surgiu, cresceu e se desenvolveu a Fisioterapia brasileira. Com apenas meio século de evolução, indiscutivelmente, é hoje uma profissão de grande destaque social e científico. Prosperou o seu fazer em diversas áreas de atuação, tendo até o momento quinze especialidades reconhecidas. Destas, a Fisioterapia Respiratória e a Fisioterapia em Terapia Intensiva dispararam acelerada expansão desde a década de noventa, tendo agora protagonismo no cenário de enfrentamento à Covid-19.
Sem dúvida, indo para a terceira dezena do século XXI, estamos agora vivendo uma nova Era do Fisioterapeuta Especialista, onde o Brasil dispõe de uma das melhores Fisioterapias do mundo, paramentada por entidades representativas organizadas e por evidências científicas robustas, que promovem a exação do exercício profissional, com qualidade e segurança. De tal sorte que, diante de uma das maiores crises da saúde pública de todos os tempos, damos graças a presença destes profissionais nas equipes de saúde na linha de frente ao combate à Covid-19.
Assim se justifica o clamor dos fisioterapeutas brasileiros para que seja referenciado o fazer do fisioterapeuta na linha de frente ao combate à Covid-19, juntamente com os médicos e profissionais da enfermagem, como um ato meritório de reconhecimento social! Entende-se também que o fato de não haver tal referência se dá ainda pela prevalência da cultura biomédica no linguajar popular, a qual vem sendo sucessivamente transformada para o modelo biopsicossocial. No entanto, com o continuar do desenvolvimento da Fisioterapia Baseada em Evidência e da solidificação da identidade deste profissional, muito em breve, sempre que se falar em saúde, os atos fisioterapêuticos estarão naturalmente referenciados na cultura popular. Esse novo capítulo está sendo escrito agora, pelas mãos de cada profissional que se expõe para garantir um novo sopro de vida à população.
Fernando Mauro Muniz Ferreira é Mestre em Saúde Coletiva pela UFMA, especialista em Fisioterapia Respiratória e em Fisioterapia em Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica pela ASSOBRAFIR/COFFITO, presidente do CREFITO 16/MA, gestão 2015-2019 e 20192023, coordenador da Comissão Nacional de Procedimentos Fisioterapêuticos do COFFITO, diretor e professor da Faculdade Inspirar São Luís.