Por Eng.º Rafael Barros
Desde as décadas de 50 e 60, as ferrovias existentes no Brasil sofrem com uma total falta de investimentos para a construção de novas linhas férreas, muito devido à valorização em massa do desenvolvimento do modal rodoviário, haja vista que poucas obras foram iniciadas pelo Governos Federais passados e, dessas poucas, nenhuma foi de fato, 100% concluída.
Temos como exemplo a Ferrovia Norte Sul que, até a data de hoje, de um total de 4.250 km de extensão entre Barcarena/PA e Rio Grande/RS, possui obras iniciadas entre Açailândia/MA e Estrela d’Oeste/SP com extensão total de 2.263 km, sendo que apenas 1 trecho está em operação (Tramo Norte entre Açailândia/MA e Porto Nacional/TO com 719 km de extensão). Um verdadeiro atraso para o desenvolvimento nacional.
Ao longo dos anos, esbarramos também em diversos problemas, tidos como crônicos, como: metodologia de execução inadequada e ultrapassada, desvio de verbas das obras públicas – como as que acompanhamos na Operação Lava Jato, como também a falta de planejamento adequado e assertivo para execução de grandes projetos ferroviários.
Com certeza absoluta, enxergamos que a soma destes fatores, fizeram com que a malha ferroviária brasileira decaísse de antigos 31.000 km (1950) para 29.000 km (2019), sendo que desse montante, nem toda sua capacidade encontra-se conservada e em condições plenas de operação, ou seja, cerca de 18.000 km, aproximadamente, estão operantes e equivalem a 60% de toda a malha.
E como se não bastasse os diversos entraves citados acima, somado ao fato de a nossa economia já não estava em ótimo “estado de saúde”, caminhando para um processo lento de recuperação de sua credibilidade para investimento junto às economias mundiais nos anos de 2020 e 2021, eis que vem a crise global provocada pelo COVID-19, gerando um colapso econômico mundial sem precedentes, seguido por decisões governamentais erradas e atrasadas aqui no Brasil, como por ex. o Lockdown Horizontal, pós Carnaval, uma vez que este alerta já havia sido dado na China, e talvez até se instalado, desde dezembro de 2019, fato este que levou nossa economia ladeira abaixo, afetando diversos setores, e um deles, o mais importante, o setor de infraestrutura de transporte.
Antes da crise declarada em 18 de março no Brasil, vivemos um ano de 2019 repleto de notícias que, de certa forma, nos fazia acreditar que a partir de 2020, o atual Governo Federal acertaria o compasso, através do nosso Ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, dizendo que as grande obras de infraestrutura voltariam a ser o carro chefe de destaque em nossa economia, seja pelas novas obras a serem liberadas bem como através das diversas privatizações que aconteceram em 2019 e aconteceriam também em 2020, e não somente em ferrovias, mas em outros importantes setores como Portos, Aeroportos e Rodovias. Infelizmente, essa retomada não foi 100% paralisada, porém teve que ser retardada e viu seu ritmo ser desacelerado.
Aconteceu que, novamente, agora por conta do COVID-19, a nossa economia estagnou. Interesses políticos continuam a atrapalhar o desenvolvimento econômico, tanto quanto a pandemia, gerando atrasos na aprovação de projetos de leis essenciais para o desenvolvimento da infraestrutura de transporte nacional, como a PLS nº 261/2018 do Senador José Serra, que se encontra na Comissão de Serviços de Infraestrutura para aprovação desde 11/03/2020, dentre muitos outros, impedindo que se tenha um novo crescimento econômico, de forma consistência, permitindo-se resolver o antigo problema da infraestrutura brasileira, que passa não somente pela ferrovia, mas principalmente, uma vez que nosso principal modal (rodoviário) encontra-se “quase” estagnado, através da liberação de novos projetos para construção de linhas férreas (ex.: Ferrogrão, FICO e a “nova” Litorânea Sul ou Rio-Vitória), finalização de obras em andamento (ex.: FIOL I, FIOL II e Transnordestina) e pela recuperação das malhas existentes através da renovação antecipada de algumas concessões (ex.: Malha Paulista – RUMO, Malha Norte – RUMO, EFC – VALE, EFVM – VALE e MRS Logística).
Mesmo durante este período crítico, vimos e ouvimos por diversas vezes o Governo Federal informar que a ferrovia não parou, que as obras continuaram (FNS Sul – RUMO e Transnordestina – CSN), mesmo adaptada à nova realidade (uso de máscaras, afastamento nas frentes de serviços, mudança nos meios de transportes dos trabalhadores, escritórios com redução de funcionários, etc.), que as concessionárias ferroviárias atuais também se adaptaram e continuaram a movimentar carga pelo país, e tudo isso contribuiu para que a nossa linha de exportação, falando de commodities agrícolas e minérios de ferro, que são os que mais contribuem para o crescimento do PIB brasileiro, não sofressem uma “pane geral”, afetando gravemente o emprego de milhões de brasileiros, ou seja, num breve resumo, ficou “escancarado” que o país necessita do modal ferroviário para sustentar o crescimento da economia pelos próximos 25 anos.
E as lições que podemos tirar, quase findando todo este período turbulento de pandemia, com empresas de diversos setores retomando suas atividades quase que em sua totalidade, fazendo girar a roda da economia de forma mais consistente, é que para fazermos com que o desenvolvimento do país aconteça de forma acelerada e sustentável, precisamos recuperar esses 5 meses “perdidos”, onde necessitamos desenvolver um elevado nº de mão de obra qualificada e especializada, em diversos setores da infraestrutura de transportes, principalmente no setor ferroviário. As grandes oportunidades para o meio ferroviário baterão às portas pelos próximos 20 ou 25 anos, em minha opinião, em virtude dos inúmeros projetos que deverão ser liberados pelo MINFRA, entre eles a continuidade da Ferrovia Norte Sul, especificamente em 2 trechos (Açailândia/MA até Barcarena/PA e Estrela d’Oeste/SP até Panorama/SP), a FERROGRÃO (Lucas do Rio Verde/MT Miritituba/PA), e a FICO (Mara Rosa/GO até Água Boa/GO e depois sendo estendida até Lucas do Rio Verde/MT), sem contar nas obras do Ferroanel Norte de SP (Manoel Feio/SP até Perus/SP).
Sabemos que, mesmo que a malha ferroviária brasileira ainda não seja referência no quesito logística de transporte por conta da quantidade de vias férreas inutilizadas, deterioradas ou abandonadas, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) observa o cenário atual, pós COVID-19, como uma excelente oportunidade para revitalizar os contratos de concessão ferroviária existentes, incluindo novos investimentos, compartilhamento de malhas e um prazo mais abrangente para investimento em construção de novas linhas férreas. Essa atitude atribuiria ao Brasil um modal de transporte mais econômico, eficiente, menos poluente e mais seguro no transporte de grandes volumes de carga.
E como está a preocupação das concessionárias e suas empresas prestadoras de serviços quando falamos de treinamento e desenvolvimento de seus funcionários, em busca de uma melhoria em sua capacitação técnica, visando sempre a excelência na prestação de serviços para o setor? E como estão as profissões ligadas ao setor ferroviário, em ascensão no mercado atual?
Segundo a Associação Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF), desde a privatização do setor, na década de 90, a malha ferroviária vem recebendo investimentos de, aproximadamente, 50 bilhões de reais para melhoria da malha existente e expansão de alguns trechos, porém percebemos que este valor é pequeno quando comparamos com países europeus e asiáticos, sem falar no país com a maior malha ferroviária do planeta, os EUA, com aproximadamente 250.000 km de vias férreas. Assim sendo, a ANTF entende que, o maior desafio da indústria ferroviária é encontrar profissionais qualificados em diversos setores: obras de superestrutura ferroviária, operações de trens (agentes de estações e maquinistas) e também de profissionais de mecânica e elétrica para área de locomotivas e vagões, que tenham nível de engenharia com especialização em suas respectivas áreas.
Visando sempre contribuir com o mercado nacional, objetivando um melhor e maior aperfeiçoamento desta mão de obra específica exigida pelo panorama atual do país, a Faculdade Inspirar, com sede em Curitiba/PR e diversas unidades espalhadas pelo país, criamos um curso de pós graduação, a título de especialização, voltado para área ferroviária que se chama Especialização em Engenharia Ferroviária e Metroferroviária, que está sendo lançado em outubro/2020 pelas unidade de Brasília/DF, Goiânia/GO, Campo Grande/MS e Dourado/MS, além de diversas outras unidades pelo país ainda em 2020. Afim de tornar real a expansão do setor ferroviário e reduzir os gargalos logísticos do país, este curso de especialização voltado para o transporte de carga e de passageiro, possui objetivo claro de qualificar profissionais das mais diversas áreas da engenharia (civil, mecânica, elétrica, ambiental, segurança do trabalho, produção, etc), além de cursos correlatos como administração, economia, logística e aqueles denominados como Tecnólogos, reconhecidos pelo MEC, de forma que o mercado esteja abastecido com os melhores especialistas ferroviários do país, advindo das nossas salas de aula.
De um modo geral, quais são as atribuições de um profissional Especialista em Engenharia Ferroviária e Metroferroviária?
Este profissional poderá atuar em muitos setores e áreas de uma empresa ferroviária, partindo desde o gerenciamento de projetos de construção, passando pela área de operações de carga ou passageiro, chegando até a manutenção das vias férreas, que é uma atividade vitalícia, sendo possível atuar dentro dos setores de planejamento da manutenção, coordenação das equipes de execução desta manutenção e, no caso de empresas terceirizadas, poderá atuar na fiscalização dos serviços a serem executados nas ferrovias. E como se não bastasse, ainda temos outros setores que estes profissionais poderão atuar, que são: Dinâmica de interação veículo-via em ferrovias de carga (Heavy Haul) e passageiros (metroferroviária); Projeto e Manutenção de material rodante; Inspeção e Manutenção de veículos automotivos para manutenção e instalação de vias; Sistema de sinalização e comunicação ferroviário e metroferroviário; Prevenção e investigação de acidentes ferroviários e metroviários; e na Legislação e Gestão de empreendimentos ferroviários.
São inúmeras as oportunidades que poderão ser criadas após a crise do COVID-19, e para termos sucesso em toda essa empreitada que está por vir, precisamos ter a certeza de que nos capacitando cada vez mais, nos especializando num setor extremamente importante e promissor para o sucesso da infraestrutura nacional nos próximos anos, teremos reais condições de fazer parte dessa história chamada FERROVIA, que é apaixonante por si só, cheia de desafios e percalços mas com muitas histórias de sucesso escritas por muito ferroviários ao longo de imenso país chamado Brasil.