Desde o começo da história, as mulheres são afastadas da ciência, sendo sempre sub-representadas. O Prêmio Nobel é o auge para qualquer cientista, e os números mostram que se considerarmos as categorias de física, química, medicina, literatura e economia, somamos 487 prêmios, mas apenas 33 deles foram entregues para mulheres.
Essa falta de representatividade feminina no meio científico não acontece por falta de competência, mas por não apresentarem a ciência da mesma forma como acontece com os homens. As poucas cientistas que decidem seguir com essa carreira muitas vezes vivem atrás de uma figura masculina.
Na Faculdade inspirar contamos com diversas cientistas no nosso time de professoras, uma delas é a Cintia Johnston, Fisioterapeuta Intensivista.
- Graduada em 2001 pela Faculdade FEEVALE, no Rio Grande do Sul
- Mestre em Neurociências e Neurocirurgia (FAMED-PUCRS)
- Doutora em Medicina Pediátrica e Saúde da Criança e do Adolescente (FAMED-PUCRS)
- Pós-doutora em Pneumologia (EPM-UNIFESP)
- MBA em Economia e Gestão em Saúde pelo (GRIDES-UNIFESP).
“Sempre fui reconhecida, desde o período escolar, por meus colegas e professores como uma pessoa criativa e inventiva, que sempre tinha ´soluções´ para as coisas”, comenta a doutota. Cintia sempre foi muito motivada pelos pais, e sempre apoiaram suas ideias, a colocaram em excelentes escolas e a deixaram livre para ser criativa “do seu jeito”.
Durante a faculdade de fisioterapia, ela se envolveu com a redação e pesquisa científica desde o início do curso, participou de atividades extracurriculares de monitoria e de projetos de ação comunitária.
No último ano da faculdade de fisioterapia, foi palestrante de alguns eventos científicos na área da saúde (principalmente médica e de fisioterapia), sempre relacionada à pesquisas científicas e novos achados. Nesse mesmo ano ela passou em um processo seletivo para mestrado na Faculdade de Medicina da PUC-RS.
No programa de Neurociências, diretamente ligado à Neurocirurgia, sob orientação do Prof. Dr. Eduardo Beck Paglioli, Cintia conta que foi um momento muito importante no qual foi acolhida pelo Serviço de Neurociências e Neurocirurgia do Hospital São Lucas da PUC-RS, e teve contato com pesquisadores referências do mundo em neurociências, neurocirurgia e epilepsia. Entre eles o Prof. Elisei Paglioli, Prof. Dr. Jader Costa, Prof. Dr. Andre Palmini e muitos outros.
Neste período, entre 2000-2004, teve a oportunidade de ser monitora da Disciplina de Epidemiologia da FAMED-PUCRS com o Prof. Dr. Mario Wagner, o qual mudou sua vida ao ensiná-la estatística e epidemiologia. Cintia afirma que foram os anos em que mais aprendeu sobre pesquisa científica. “Minha vontade de pesquisar, analisar dados e encontrar respostas aumentou muito neste período, o que foi fundamental para que eu desenvolvesse uma base sólida dos conceitos e conhecimentos em pesquisa científica“, explica.
Nos anos seguintes (2004-2007), vinculou-se à Disciplina de Terapia Intensiva Pediátrica e Neonatal da FAMED-PUCRS e foi aceita no programa de Doutorado em Medicina, Saúde da Criança e do Adolescente, sob orientação do Prof. Dr. Jefferson Piva e com muito apoio institucional do Prof. Dr. Pedro Celiny (in memorian). Junto ao time, o Prof. Dr. Werther Brunow de Carvalho (na época professor da EPM-UNIFESP) teve seu primeiro artigo cientifico publicado em uma revista internacional de impacto (Respiratory Care Medicine, 2011).
O artigo tinha como tema central de pesquisa “desmame ventilatório em terapia intensiva pediátrica” ao qual se dedica até hoje, junto da linha de pesquisa “suporte ventilatório em pediatria e neonatologia” da qual é, atualmente, a Profa. Orientadora do Programa de Pós-graduação em Pediatria e Saúde da Criança do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Durante nove anos (2009-2018), foi coordenadora do programa de residência multiprofissional em saúde da criança e do adolescente da UNIFESP (o primeiro do Brasil), função que permitiu que ela evoluísse ainda mais a capacidade de orientar e desenvolver pesquisas científicas com residentes de diversas áreas profissionais.
O período da pandemia do SARSCoV-2 também contribuiu para seu destaque mundial em pesquisas científicas porque Cintia fez parte do grupo de pesquisa de “casos graves de COVID-19 em pediatria e neonatologia” da FMUSP.
O grupo liderou pesquisas importantes a nível mundial, e foi classificado entre os 10 centros de pesquisa do mundo que mais contribuíram para os conhecimentos científicos sobre a COVID-19.
Atualmente é membro de diversos grupos e comitês de pesquisa científica no Brasil, na América Latina e no mundo. “Me sinto grata pelo reconhecimento nacional e internacional e não mudaria absolutamente nada da minha trajetória até os dias atuais”, enfatiza a cientista.
A Ciência sempre esteve presente em sua vida, desde criança. A motivação em tentar trazer respostas para situações de saúde-doença é, incansavelmente, a rotina dela desde a graduação. O apoio de seus professores foi fundamental em todas as fases de seu desenvolvimento profissional e pessoal, pois sempre foi muito motivada e orientada por todos que passaram em sua vida. “Sou o que sou pelo exemplo dos meus pais, do meu marido e filha e, sem dúvidas, pelos exemplos dos meus professores”, finaliza.
Dielise Debona Iucksch
Filha de uma pedagoga e um filósofo, Dielise Debona Iucksch também sempre foi curiosa e a resposta “porque sim” jamais a satisfez. Então a pesquisa pareceu sempre uma forma natural de responder às mais diversas questões, o que a acabava levando constantemente ao dicionário e às enciclopédias.
Durante a graduação, o uso da internet não estava inserido no seu dia a dia, então na biblioteca da PUCPR, pesquisando nas prateleiras de Fisioterapia do segundo andar, ela buscava sanar as suas dúvidas da maneira clássica, com livros.
Assim que concluiu a graduação, a “vida real” acabou chamando Dielise para vivenciar a interação entre o ambiente aquático e terrestre no atendimento de seus pacientes no interior do Paraná, em Pato Branco.
Foi lá onde ela atendeu os primeiros pacientes e teve as primeiras oportunidades de atender o mesmo paciente nos dois ambientes, o que claramente mostrou ser uma vantagem.
Mesmo satisfeita com sua vida, sentia que precisava aprofundar os conhecimentos e isso a levou para sua primeira Pós-Graduação, em Fisioterapia Aquática, na Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná. Paralelamente, o curso de Fisioterapia foi iniciado na Faculdade de Pato Branco e começou a vida docente, ministrando Hidromecanoterapia.
Ao voltar para Curitiba em 2004 sua vida dupla em atendimento aquático (AA) e terrestre (AT) ocorreu na Clínica Aeróbika. Em busca de maiores conhecimentos e de networking, ingressou na Pós-Graduação em Fisioterapia Ortopédica da PUCPR, na qual reencontrou a Professora Vera Lucia Israel e então iniciaram uma parceria que mudou sua forma de pensar, consolidando os aprendizados sobre o AA e a funcionalidade.
Em sua monografia iniciou estudos sobre marcha em AA e, depois, no Mestrado, em parceria com a Professora Elisângela Ferretti Manffra ingressou de novo no melhor dos dois mundos: a associação entre a pesquisa qualitativa e a quantitativa.
Graças à Elisângela, que apresentou os conceitos biomecânicos e de controle motor, a dissertação de Dielise foi uma associação do que se tornou uma grande paixão: estudo da marcha, ambiente aquático e o atendimento de pessoas com lesão medular.
A aprovação no processo seletivo do Hospital de Reabilitação do Paraná possibilitou aliar tudo isso na prática clínica, e o trabalho para inaugurar as piscinas do hospital e o laboratório de análise clínica da marcha, ambos com atendimento exclusivo a pacientes do Sistema Único de Saúde, ajudaram a ampliar um pouco mais o olhar.
Sempre em parceria com a UFPR por meio da preceptoria dos alunos de graduação, manteve o contato com a docência e com o meio acadêmico. Nessa época conheceu a doutora Sibele Melo Knaut, a qual a levou a aprofundar as raízes na Fisioterapia Neurofuncional. Então, naturalmente ingressou como professora da Pós-graduação em Fisioterapia Neurofuncional na Faculdade Inspirar. “Foi mais uma caminhada de grandes aprendizados até chegar ao convite para assumir a coordenação da Pós-graduação na sede do grupo Inspirar, onde a estrutura e o PPC nacional têm seu alicerce”, conta Dielise.
Para isso, foi necessário desenvolver outras habilidades que aprimoraram seu olhar para a docência e a gestão em educação. Foram anos viajando, literalmente, de Norte a Sul do Brasil ensinando e aprendendo com os alunos da Pós-graduação sobre marcha e funcionalidade; neuroplasticidade, controle e aprendizado motor; fisioterapia aquática; órteses, meios auxiliares da marcha e cadeiras de rodas.
A aprovação no processo seletivo para professora substituta da UFPR em 2017 foi a motivação definitiva para ingressar no Doutorado, pois sabia que esse momento chegaria, mas ela sentia que a prática clínica precisava ser aprimorada e também precisava dar atenção a questões pessoais.
Novamente em parceria com as professoras Vera e Elisangela, Dielise se viu em uma outra área: a Doença de Parkinson (DP). Uma das áreas da Neurofuncional com a qual tinha pouca prática clínica, o que a levou novamente à pesquisa (agora já com acesso à internet).
A linha mestra se manteve: um olhar clínico e biomecânico nos dois ambientes terapêuticos e com o intuito de ajudar pessoas com alterações neurofuncionais na marcha – uma das tarefas funcionais que a cientista julga ser uma das mais importantes de promover, manter e aprimorar.
Surge então uma nova paixão: o atendimento de pessoas com DP. “Um grupo que demonstra uma solidariedade inigualável, que prontamente desperta empatia e confirma o olhar humanizado que busco trazer ao trabalhar no processo saúde-doença desde o início”, explica Dielise. “Fico extremamente feliz de poder oportunizar às pessoas com DP, a partir das parcerias do grupo de pesquisa que a professora Vera alicerçou, o acesso gratuito à Fisioterapia Aquática, uma terapia especializada e nem sempre acessível para todos. Também de oferecer a eles um estímulo para a execução de exercício físico com intensidade progressiva no ambiente terrestre, com atendimento supervisionado e avaliações que perfizeram 12 meses de acompanhamento na vida deles, devolvendo, assim, para a sociedade um pouco do investimento depositado na minha formação”, finaliza a doutora.
O segredo principal para sua carreira de sucesso foi que Dielise sempre buscou o aperfeiçoamento teórico, mas queria alcançá-lo para utilizar na prática mesmo, no atendimento dos pacientes no dia-a-dia.
Um viva para as mulheres na Ciência!